segunda-feira, 26 de março de 2012

SOBRE A CULTURA NO ALANDROAL

Publicamos neste blogue o texto enviado pelo Presidente João Grilo ao administrador do blogue "AL TEJO", a propósito da política cultural no concelho do Alandroal e das vozes anónimas que tentam denegrir o trabalho sério que tem vindo a ser feito. O texto dispensa mais comentários.

Caro Chico,

Não é a primeira vez que me sinto tentado a dirigir-lhe algumas palavras, numa vontade que resulta sempre de ver reproduzidas no espaço que dirige afirmações ou ideias injustas, incorrectas, redutoras ou distorcidas.
Reconheço o seu esforço para ser isento e admito que o facto de estar longe, e de a informação lhe chegar fragmentada, para não dizer distorcida, possa contribuir para isso. O que só prova que o meu amigo tem que estar mais atento e alerta.
É o caso das suas últimas afirmações sobre a política cultural no concelho, em que parece querer afirmar que o (excelente) grupo de teatro da Escola Popular é um oásis no deserto da cultura local "que nunca por nunca pode limitar-se a troca de politiquices baratas e sem fundamento".
Ora, meu caro Chico, não podia estar mais de acordo consigo. Mas como esta conversa já não é nova, obriga-me a tecer algumas considerações adicionais.
Vai-me desculpar as comparações entre o "antes" e o "agora", mas elas são inevitáveis para uma boa avaliação.
O grupo de teatro foi criado no início do meu mandato no âmbito do projecto da "Escola Popular Túlio Espanca" também lançado por nós. Uma escola que envolve hoje cerca de 500 alunos (sim, 500 pessoas do concelho, quase 10% da população) distribuídos por actividades tão diversas como o teatro, a informática, a ginástica, a história, a poesia, o inglês, as aulas de instrumentos tradicionais, etc.). Um projecto que já está presente em praticamente todas as localidades do concelho. Antes o que havia? NADA!
O Fórum Cultural é neste momento dirigido por uma pessoa do concelho, dos quadros da câmara, que tem a minha absoluta confiança para o lugar que ocupa e que tem demonstrado grande capacidade de trabalho e, sobretudo, grande capacidade de fazer muito com muito pouco.
É que, sem pôr em causa as capacidades de ninguém, fazer alguns brilharetes, durante algum tempo, com o dinheiro que não se tem a acumular dívida, qualquer um faz. Se eu quisesse podia hoje comprar para mim uma casa de praia, um iate, um carro de luxo e uma grande viagem e vivia três ou quatro meses "à grande". E depois, como seria? Como vivo do meu ordenado, como seriam os meus próximos 20 anos? Iam ser muito difíceis, por certo. O mesmo se passou a todos os níveis no Alandroal, e também com a "cultura de excelência" de um certo momento. Vamos juntar todas as despesas do Fórum Café Concerto com as Agenda Cultural e vai haver surpresas. Já falta pouco para sabermos os números e vermos onde se falta à verdade.
A programação do Fórum é neste sentido equilibrada entre o que são as expectativas do nosso público (que tem enchido salas a saído satisfeito) e o que os financiamentos comunitários permitem, porque dinheiro, é coisa que não ficou por cá.
Para além disso, sai com regularidade para as aldeias, onde a câmara nunca tinha levado NADA! Estive em muitos dos espectáculos dos Bonecos de Santo Aleixo nas aldeias, vi a genuína alegria das pessoas e sei do que estou a falar.
Para além dos espectáculos, o espaço tem acolhido eventos muito diversos que o dignificam. As exposições sobre o "Rio Guadiana" e sobre a "Rota do Contrabando" dirigidas pelo actual responsável, são o melhor exemplo de trabalhos de nível superior reconhecidos pelos visitantes. E a importância dada aos artistas locais merece ainda destaque.
A política cultural da câmara não se esgota aqui. Política cultural de um município é, do meu ponto de vista, muito mais do que um conjunto de actividades num espaço (Fórum).
Os principais eventos da câmara deixaram de ser "fogueiras de vaidades", incaracterísticas - que tanto se podiam fazer aqui como noutro lugar qualquer - para passarem a ser grandes momentos de promoção da cultura local.
Quer o Festival Terras do Endovélico, quer a Mostra Gastronómica do Peixe do Rio assentam na cultura, tradições e imaginário local para promover o que o concelho tem de melhor.
Quanto ao Endovélico, estamos criar o "Centro de Estudos do Endovélico", dirigido pela Dra. Ana Paula Fitas e envolvendo todos os investigadores que ao longo dos anos se têm dedicado a este estudo (Profs. Carlos Fabião, Amilcar Guerra e Thomas Shatner). Centro esse que será responsável pelo aumento do conhecimento em relação ao deus da Lusitânia e pelo acompanhamento científico e musealisação do futuro "Centro Interpretativo do Endóvelico", já em fase de estudo prévio de projecto de arquitectura. E sim, as estátuas vão vir para o concelho, para esse centro, conforme está acordado com o Director do Museu Nacional de Arqueologia, Dr. Luis Raposo. Alguém, alguma vez, de alguma forma, teve a coragem de pegar "com unhas e dentes" nesta tão importante temática do concelho e fazer este trabalho sério e consistente que tantos frutos pode dar no futuro? NÃO!
E alguém, alguma vez, de alguma forma, tinha valorizado o peixe do rio como ele está a ser valorizado? NÃO! NADA! Mas o Endovélico estava cá.
E o peixe estava cá, estava cá tudo. Nós partimos quase do zero com esta temática e apenas 3 edições depois está à vista de todos o sucesso da iniciativa e a importância que tem para a dinamização cultural, social e económica do concelho. E já agora, o "Receituário do Peixe do Rio" de "caríssimo" não teve nada, já que foi financiado por fundos comunitários.
Criámos o "Cinema de Rua" e muito em breve vamos ter Cinema Digital 3D numa máquina que não é "caríssima" como afirma a propaganda e que custa à câmara menos de 20.000 euros, já que é financiada em 70% por fundos comunitários. Em tudo idêntica às de Portel, Redondo e Reguengos, financiadas pelo mesmo programa.
Estamos a rever a "Carta Arquelógica" do concelho com a supervisão do Dr. Manuel Calado e trabalho de campo da Dra. Conceição Roque. Temos promovido escavações arquelógicas todos os anos. É capaz de me dizer há quantos anos a câmara não patrocinava estes trabalhos? (não esqueço a excepção do apoio dado aos trabalhos em S. Miguel da Mota, pagos pelo Instituto Alemão). Destas escavações resultaram, por exemplo, descobertas surpreendentes na Rocha da Mina no ano passado. Portanto, o que se fazia? MUITO POUCO para um concelho que se quer afirmar pela riqueza do seu património.
Está a ser criada uma "Comissão para as Comemorações dos 500 Anos dos Forais Manuelinos de Juromenha, Terena e Alandroal", cujo trabalho científico será dirigido pelo Professor Manuel Branco, que conduziu o mesmo processo em Évora. Para além do restauro dos antigos forais, vai ocupar-se da edição das suas transcrições e de um conjunto de actividades paralelas até 2015. Este assunto estava ESQUECIDO.
Vamos publicar as "Memórias Paroquiais do Alandroal", trabalho realizado já neste mandato pela Dra. Isabel Moreira.
Estamos a apoiar a Banda, de forma devidamente enquadrada num protocolo que permite que esta esteja presente em quase todas as festividades do concelho. O que já não estava a acontecer.
Vamos apoiar os Cantadores dos Reis na edição de um CD.
Estamos a apoiar a criação de um rancho folclórico em Hortinhas.
Está já em fase de publicação um livro de homenagem ao "Ti Limpas" e à poesia popular que também estava muito esquecida. Estamos a fazer recolhas de poesia popular que estão a ser realizadas pelo sector de cultura para futura edição e têm sido realizados encontros regulares de poesia popular em Capelins e Hortinhas.
Apoiamos todas as festividades do concelho, em particular as que mantém vivas as tradições mais antigas, com destaque para a Festa da Boanova, a Santa Cruz da Venda e a Santa Cruz de Cabeça de Carneiro que voltou a realizar-se ao fim de 17 anos.
E podia continuar com o FIKE, o protocolo com o CENDREV, os projectos de dinamização do castelo, etc.
Antes o que se fazia em todas estas áreas? MUITO POUCO, e em muitas delas, NADA!
Portanto, caro Chico, do meu ponto de vista, aquilo que temos hoje no Alandroal, apesar das grandes dificuldades financeiras, é uma política cultural e de promoção da cultura local como nunca tivemos! Uma política cultural com objectivos claros, com um rumo certo que vai muito para além dos ciclos eleitorais e dos fogachos de momento. Uma política cultural com objectivos que vão demorar 5, 10 ou até 15 anos a desenvolver totalmente, mas que tinha que ser começada agora, desta maneira. Uma política cultural virada para as pessoas e para o seu envolvimento directo.
Nós não andamos cá a "trocar politiquices". Isso são guerras que só têm beligerantes de um lado!
Nós estamos cá a trabalhar, e muito, que foi para isso que os eleitores depositaram confiança em nós. Há por detrás de tudo o que referi muito trabalho sério de muita gente séria que merece ser respeitado.
Se há politiquices não é da nossa parte que tudo fazemos para envolver o máximo de pessoas em tudo. Estamos muito agradecidos a todos aqueles que se envolvem de alma e coração nas actividades que a câmara promove.
Se há politiquices é da parte daqueles que tiveram a oportunidade, o tempo e mais dinheiro do que nós para fazer tudo isto e nada fizeram e que a coberto do anónimato que o Chico e outros lhes proporcionam tentam destruir tudo o que se faz de bem nesta terra porque não são eles a fazê-lo. Mas isto, já não é novidade para ninguém.
Pense nisto.

Com um abraço amigo,

João Grilo

25.03.2012

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