sábado, 16 de março de 2013

ENTREVISTA DE JOÃO GRILO - CONCLUSÃO


Em recentes declarações, esclareceu que voltaria a candidatar-se, se para tal reunisse o consenso do MUDA. Dando como certa tal anuência e sabendo as dificuldades que se prevêem para os próximos anos, dada a contingência da extinção do Concelho (vide o que sucedeu recentemente com as freguesias), não teme que um segundo mandato possa vir a colocá-lo como o último Presidente da Câmara do Alandroal?

Penso que a fusão de municípios fará sentido em áreas densamente povoadas, onde quase não se percebe onde acaba um concelho e começa outro – como as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto – onde seria possível uma grande poupança com grandes ganhos de escala já que existem maiores dinâmicas empresariais e da sociedade civil e onde os serviços do Estado estão bem presentes. Nos territórios do interior, onde as câmaras municipais, mercê do desinvestimento de sucessivos governos, são a única resposta para as populações e ao mesmo tempo as grandes impulsionadoras das dinâmicas locais, extinguir municípios é condenar os territórios a sofrerem uma desertificação ainda mais rápida e destrutiva.
E não podemos aceitar argumentos de poupança, já que o esforço do Estado é mínimo comparando com tudo o que se consegue aqui fazer pela vida das pessoas com esse dinheiro. Os males da nação estão bem identificados no buraco da Madeira, no défice crónico e crescente das grandes empresas públicas, nas PPP’s e nos BPN’s, entre outros. O dinheiro que aqui recebemos do estado é mais do que devido. Não só resulta dos nossos impostos com também nos nossos territórios estão os recursos naturais, as áreas protegidas, os montados, as barragens, a RAN e a REN... As populações do interior pagam um preço elevado para que Portugal mantenha bons indicadores ambientais e o único que pedem em troca é que sejam compensadas na devida medida em relação à riqueza que produzem e que encerram e não que sejam olhadas com a desconfiança de quem está a pedir para gastar o que outros pagaram em impostos.
Para alem disso, nestes  territórios que estão a ser abandonados à sua sorte está tudo o que Portugal tem de único e irrepetível em qualquer lado do mundo e com potencial para ajudar a construir um futuro sustentável. Está o que resta de cultura e tradições milenares de um modo de vida em equilíbrio com a Natureza, que para além de ser factor decisivo de identidade e afirmação é um factor económico de peso.
Temo que o Alandroal possa vir a estar numa posição mais fragilizada do que devia no momento em que a questão vier um dia para cima da mesa. A sucessiva falta de estratégia de desenvolvimento e a situação de endividamento crónico em que ficámos retira-nos alguma capacidade de argumentação.
É por isso que é importante mostrarmos hoje que sabemos para onde queremos ir, que temos parcerias estratégicas com os nossos vizinhos que ajudam a construir esse caminho. Que temos valor e potencial económico. Que somos rigorosos na aplicação de fundos comunitários. Que fazemos trabalho sério e consistente e que, como tal, devemos ser respeitados pelo poder central e por todos os organismos do Estado. Temos que mostrar que vale a pena continuar a pensar o Alandroal como um território com identidade, potencial e futuro. E que há lugar neste processo para todos os que queiram dar o seu contributo.
Esta pode muito bem ser a nossa última oportunidade de mostrar isso e fazer um ponto de viragem neste concelho. Temos que mostrar que a nossa continuidade enquanto concelho não pode ser posta em causa. E se não o conseguirmos, seremos todos responsáveis. Uns mais que outros, é claro, em função das responsabilidades e do poder de intervenção. Portanto a questão de fundo é quem se vai demitir de fazer parte deste processo!


A terminar: dê-nos a sua opinião sobre o papel dos blogues e sites do Alandroal e, se assim o entender sobre o papel que o Al Tejo tem vindo a desenvolver.

Os blogues podem ser importantes meios de comunicação, e é por isso que desde o início deste mandato, a Câmara Municipal adoptou a postura de enviar informação da actividade do município para os blogues mais conhecidos da sede de concelho colocando-os em pé de igualdade com qualquer  meio de comunicação social, até porque, esses meios não existem no concelho e estes acabam por ser uma importante fonte de informação.
Entre as pessoas ou instituições e os meios de comunicação social, por força do seu código deontológico, existe, regra geral, um respeito mútuo e uma partilha de responsabilidades que funciona como garantia dos direitos e liberdades e da livre expressão de cada um. Nos blogues isto não está assegurado. As únicas garantias que podem existir são as que resultam dos critérios, mais ou menos claros, do editor.
Não nos podemos esquecer que os direitos e liberdades de uns terminam necessariamente onde começam a colidir com os direitos e liberdades de outros.
Admiro e respeito todas as pessoas que nos blogues dão a sua opinião e escrevem o seu verdadeiro nome por baixo. Como alguém disse um dia, “posso não concordar com o que dizes, mas bater-me-ei até ao fim pelo teu direito a dizê-lo!”
Infelizmente para todos nós, noto que os nossos blogues estão longe de cumprir esta missão.
Ao contrario do que muitos defendem, o  anonimato não serve a livre expressão.
A pretexto da “liberdade”, da “livre expressão” ou da “imparcialidade” não se pode dar espaço às mais cobardes formas de espalhar o boato, a mentira e a difamação.
Os blogues perdem assim o seu carácter informativo e transformam-se  em espaços e instrumentos que contribuem activamente para um ambiente revanchista, destrutivo, de “bota-abaixo” e de destilar de ódios que só serve interesses obscuros mas ao mesmo tempo identificáveis.
Ninguém que queira fazer um trabalho de comunicação sério pode deixar-se usar como instrumento desta estratégia.
Quem quer ser respeitado deve dar-se ao respeito. O editor não se pode distanciar de qualquer conteúdo do seu blogue ainda que seja um comentário. Se os blogues querem fazer um trabalho sério e ser respeitados por isso comecem por dar o exemplo: Acabem de vez com comentários anónimos e de gente que não se identifica publicamente.
Portanto, penso que o AL-TEJO tem sido um importante meio na difusão do concelho e do que nele acontece, que o tem feito de forma imparcial e abrangente, que dá espaço a opiniões diversas e bem identificadas e que já fez um importante percurso na forma de lidar com os comentários anónimos. Falta dar mais um passo. Falta acabar de vez com esses comentários que poluem uma imagem quase irrepreensível. Deixo aqui esse desafio ao editor.


Caso o entenda necessário e  se  for de acrescentar e informar algo
mais sobre o Concelho, faça o favor. Via aberta.

Muito se tem feito neste mandato para colocar o concelho no rumo certo. Mas é incomparavelmente mais o que está por fazer do que aquilo que está feito.
Não temos medo da crítica. Vivemos bem com ela e é ela que nos ajuda a melhorar. Acedi a dar esta entrevista neste espaço sabendo que ela ia ser alvo de grande escrutínio local, e é perfeitamente identificável o que são críticas sérias, consistentes e com fundamento – porque sabemos que erramos e nem sempre conseguimos ver todos os lados de um problema – e o que é politiquice baixa e fundamentalismo bacoco. É esta última parte que está a mais nos blogues e no nosso dia a dia.
Somos uma comunidade pequena e frágil que deve estar fortemente unida nos desafios que tem pela frente.
Aproxima-se um momento eleitoral que vai ser vivido no mais difícil cenário de crise e dificuldades de que temos memória recente.
Os alandroalenses vão ter que fazer escolhas. E vão ter que escolher entre opções de futuro bem diferentes e bem identificadas.
Será mais um momento para o Alandroal demonstrar a sua cultura democrática e tenho a certeza que o vamos fazer da melhor forma, mas deixo um apelo.
Não deixem que a politica vos divida. Não deixem que alguns políticos vos dividam. Não deixem que vos coloquem uns contra os outros. Não deixem que a politica crie barreiras entre familiares, vizinhos, colegas de trabalho, etc.
Tenham “adversários políticos”, não tenham “inimigos políticos”.
Critiquem, perguntem, interessem-se! Queiram saber! Informem-se a fundo. Não se deixem ficar pela superfície e pelo “diz que disse”.
E depois façam as vossas opções, votem em consciência.
Uma comunidade distingue-se pelos valores que pratica e não pelos que apregoa.
Penso que o crescimento deste espírito no concelho tem sido um dos grandes contributos do MUDA e é também por aqui o Alandroal deve aproximar-se mais do “quem de ti se fiar não o enganes, lealdade em todas as cousas”.

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