Em recentes declarações, esclareceu que voltaria a candidatar-se, se para
tal reunisse o consenso do MUDA. Dando como certa tal anuência e sabendo as
dificuldades que se prevêem para os próximos anos, dada a contingência da
extinção do Concelho (vide o que sucedeu recentemente com as freguesias), não
teme que um segundo mandato possa vir a colocá-lo como o último Presidente da
Câmara do Alandroal?
Penso que a fusão de municípios
fará sentido em áreas densamente povoadas, onde quase não se percebe onde acaba
um concelho e começa outro – como as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto –
onde seria possível uma grande poupança com grandes ganhos de escala já que
existem maiores dinâmicas empresariais e da sociedade civil e onde os serviços
do Estado estão bem presentes. Nos territórios do interior, onde as câmaras
municipais, mercê do desinvestimento de sucessivos governos, são a única
resposta para as populações e ao mesmo tempo as grandes impulsionadoras das
dinâmicas locais, extinguir municípios é condenar os territórios a sofrerem uma
desertificação ainda mais rápida e destrutiva.
E não podemos aceitar argumentos
de poupança, já que o esforço do Estado é mínimo comparando com tudo o que se
consegue aqui fazer pela vida das pessoas com esse dinheiro. Os males da nação
estão bem identificados no buraco da Madeira, no défice crónico e crescente das
grandes empresas públicas, nas PPP’s e nos BPN’s, entre outros. O dinheiro que
aqui recebemos do estado é mais do que devido. Não só resulta dos nossos
impostos com também nos nossos territórios estão os recursos naturais, as áreas
protegidas, os montados, as barragens, a RAN e a REN... As populações do
interior pagam um preço elevado para que Portugal mantenha bons indicadores
ambientais e o único que pedem em troca é que sejam compensadas na devida
medida em relação à riqueza que produzem e que encerram e não que sejam olhadas
com a desconfiança de quem está a pedir para gastar o que outros pagaram em
impostos.
Para alem disso, nestes territórios que estão a ser abandonados
à sua sorte está tudo o que Portugal tem de único e irrepetível em qualquer
lado do mundo e com potencial para ajudar a construir um futuro sustentável.
Está o que resta de cultura e tradições milenares de um modo de vida em
equilíbrio com a Natureza, que para além de ser factor decisivo de identidade e
afirmação é um factor económico de peso.
Temo que o Alandroal possa vir a
estar numa posição mais fragilizada do que devia no momento em que a questão
vier um dia para cima da mesa. A sucessiva falta de estratégia de
desenvolvimento e a situação de endividamento crónico em que ficámos retira-nos
alguma capacidade de argumentação.
É por isso que é importante
mostrarmos hoje que sabemos para onde queremos ir, que temos parcerias
estratégicas com os nossos vizinhos que ajudam a construir esse caminho. Que
temos valor e potencial económico. Que somos rigorosos na aplicação de fundos
comunitários. Que fazemos trabalho sério e consistente e que, como tal, devemos
ser respeitados pelo poder central e por todos os organismos do Estado. Temos
que mostrar que vale a pena continuar a pensar o Alandroal como um território
com identidade, potencial e futuro. E que há lugar neste processo para todos os
que queiram dar o seu contributo.
Esta pode muito bem ser a nossa
última oportunidade de mostrar isso e fazer um ponto de viragem neste concelho.
Temos que mostrar que a nossa continuidade enquanto concelho não pode ser posta
em causa. E se não o conseguirmos, seremos todos responsáveis. Uns mais que
outros, é claro, em função das responsabilidades e do poder de intervenção.
Portanto a questão de fundo é quem se vai demitir de fazer parte deste
processo!
A terminar: dê-nos a sua opinião sobre o papel dos blogues e sites do
Alandroal e, se assim o entender sobre o papel que o Al Tejo tem vindo a desenvolver.
Os blogues podem ser importantes
meios de comunicação, e é por isso que desde o início deste mandato, a Câmara
Municipal adoptou a postura de enviar informação da actividade do município
para os blogues mais conhecidos da sede de concelho colocando-os em pé de
igualdade com qualquer meio de
comunicação social, até porque, esses meios não existem no concelho e estes
acabam por ser uma importante fonte de informação.
Entre as pessoas ou instituições
e os meios de comunicação social, por força do seu código deontológico, existe,
regra geral, um respeito mútuo e uma partilha de responsabilidades que funciona
como garantia dos direitos e liberdades e da livre expressão de cada um. Nos
blogues isto não está assegurado. As únicas garantias que podem existir são as
que resultam dos critérios, mais ou menos claros, do editor.
Não nos podemos esquecer que os
direitos e liberdades de uns terminam necessariamente onde começam a colidir
com os direitos e liberdades de outros.
Admiro e respeito todas as
pessoas que nos blogues dão a sua opinião e escrevem o seu verdadeiro nome por
baixo. Como alguém disse um dia, “posso não concordar com o que dizes, mas
bater-me-ei até ao fim pelo teu direito a dizê-lo!”
Infelizmente para todos nós, noto
que os nossos blogues estão longe de cumprir esta missão.
Ao contrario do que muitos
defendem, o anonimato não serve a
livre expressão.
A pretexto da “liberdade”, da
“livre expressão” ou da “imparcialidade” não se pode dar espaço às mais
cobardes formas de espalhar o boato, a mentira e a difamação.
Os blogues perdem assim o seu
carácter informativo e transformam-se
em espaços e instrumentos que contribuem activamente para um ambiente
revanchista, destrutivo, de “bota-abaixo” e de destilar de ódios que só serve
interesses obscuros mas ao mesmo tempo identificáveis.
Ninguém que queira fazer um
trabalho de comunicação sério pode deixar-se usar como instrumento desta
estratégia.
Quem quer ser respeitado deve
dar-se ao respeito. O editor não se pode distanciar de qualquer conteúdo do seu
blogue ainda que seja um comentário. Se os blogues querem fazer um trabalho
sério e ser respeitados por isso comecem por dar o exemplo: Acabem de vez com
comentários anónimos e de gente que não se identifica publicamente.
Portanto, penso que o AL-TEJO tem
sido um importante meio na difusão do concelho e do que nele acontece, que o
tem feito de forma imparcial e abrangente, que dá espaço a opiniões diversas e
bem identificadas e que já fez um importante percurso na forma de lidar com os
comentários anónimos. Falta dar mais um passo. Falta acabar de vez com esses
comentários que poluem uma imagem quase irrepreensível. Deixo aqui esse desafio
ao editor.
Caso o entenda necessário e
se for de acrescentar e
informar algo
mais sobre o Concelho, faça o favor. Via aberta.
Muito se tem feito neste mandato
para colocar o concelho no rumo certo. Mas é incomparavelmente mais o que está
por fazer do que aquilo que está feito.
Não temos medo da crítica.
Vivemos bem com ela e é ela que nos ajuda a melhorar. Acedi a dar esta
entrevista neste espaço sabendo que ela ia ser alvo de grande escrutínio local,
e é perfeitamente identificável o que são críticas sérias, consistentes e com
fundamento – porque sabemos que erramos e nem sempre conseguimos ver todos os
lados de um problema – e o que é politiquice baixa e fundamentalismo bacoco. É
esta última parte que está a mais nos blogues e no nosso dia a dia.
Somos uma comunidade pequena e
frágil que deve estar fortemente unida nos desafios que tem pela frente.
Aproxima-se um momento eleitoral
que vai ser vivido no mais difícil cenário de crise e dificuldades de que temos
memória recente.
Os alandroalenses vão ter que
fazer escolhas. E vão ter que escolher entre opções de futuro bem diferentes e
bem identificadas.
Será mais um momento para o
Alandroal demonstrar a sua cultura democrática e tenho a certeza que o vamos
fazer da melhor forma, mas deixo um apelo.
Não deixem que a politica vos
divida. Não deixem que alguns políticos vos dividam. Não deixem que vos
coloquem uns contra os outros. Não deixem que a politica crie barreiras entre
familiares, vizinhos, colegas de trabalho, etc.
Tenham “adversários políticos”,
não tenham “inimigos políticos”.
Critiquem, perguntem,
interessem-se! Queiram saber! Informem-se a fundo. Não se deixem ficar pela
superfície e pelo “diz que disse”.
E depois façam as vossas opções,
votem em consciência.
Uma comunidade distingue-se pelos
valores que pratica e não pelos que apregoa.
Penso que o crescimento deste
espírito no concelho tem sido um dos grandes contributos do MUDA e é também por
aqui o Alandroal deve aproximar-se mais do “quem de ti se fiar não o enganes,
lealdade em todas as cousas”.
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