João Maria Aranha Grilo, professor. Em 2005 deixou
o ensino para assumir a vice-presidência da Câmara Municipal de Alandroal, na
altura, pelo PS. Divergências com o então presidente, levaram João Grilo a não
terminar o mandato para o qual tinha sido eleito. Juntamente com outros
alandroalenses, formou o Movimento Unidade e Desenvolvimento de Alandroal
(MUDA), movimento pelo qual concorreu às autárquicas 2009, acabando por vencer
por 7 votos! Em final de mandato, e enquanto decorre a IV Mostra Gastronómica do
Peixe do Rio, falei com o actual presidente da Câmara Municipal de Alandroal,
em mais um “Encontros no Alto da Praça”.
1. João Grilo, a terra e a
água estão intimamente ligados ao concelho do Alandroal. Grande extensão de
terra, um dos maiores concelhos do Pais e, agora, muita água, mercê da
construção da Barragem do Alqueva. Comecemos por falar da terra, do espaço que
gere, dos parcos recursos financeiros, das diferentes freguesias do concelho, e
da aposta no desenvolvimento do interior alentejano. Presidente, a tarefa não
tem sido fácil?
Não, não tem sido fácil. Sobretudo pelo
ponto de partida de onde fomos obrigados a começar. Mas por isso mesmo temos
mostrado que somos capazes de gerir o município no contexto mais difícil das
últimas décadas. Estamos a pagar dívidas, a equilibrar as contas, a fazer
obras, a reorganizar a câmara, a melhorar respostas sociais e educativas. Estamos
a provar que é possível fazer muito com muito pouco e que uma estratégia
concertada de desenvolvimento sustentável pode fazer crescer o concelho ao
longo do tempo.
2. Sendo este um dos maiores
concelhos do Pais, o Alandroal está também adjectivado de ser um dos mais
pobres. Que medidas tomou, está a tomar ou pensa vir a tomar para mudar esta
opinião?
Costumo dizer que não somos tão pobres
como nos pintaram no passado nem tão ricos como nos quiseram fazer crer há
pouco tempo. Somos um concelho com um grande potencial agrícola e agro-pecuário
que se pode traduzir também numa grande riqueza agro-industrial, assim haja
investimentos. Temos potencial mineiro como já aconteceu no passado e pode
voltar em breve a acontecer com as prospecções que estão em curso. Temos
potencial para as energias alternativas, designadamente a termo-solar, com
alguns interesses manifestados. E temos todo o potencial turístico que
proporciona uma natureza quase intacta. A câmara apostou na criação de
condições favoráveis à fixação de empresas, ajudou a criar uma associação
empresarial e está a promover o contacto entre empresários, como é exemplo a
parceria recente com Olivença. O momento não é o melhor e os empresários estão
com uma atitude defensiva resultado do sentimento que se vive no país e na
Europa. Por exemplo, só ao nível do turismo temos projectos aprovados na câmara
– e alguns com financiamentos comunitários garantidos – que triplicam o número
de camas do concelho. É preciso ultrapassar esta instabilidade e voltar a
acreditar no futuro da região.
3. Nos Censos de 2011, o
concelho de Alandroal apresenta uma perda de mais de 11% da população
residente, em comparação com os Censos de 2001. Que comentário lhe merece estes
números? Como se pode inverter esta tendência?
Este é um cenário comum a todo o
interior do país. E quando falo de interior estou já a incluir quase dois
terços do território. É a prova de que não existem politicas de nível nacional
destinadas a combater esta tendência e as politicas dos municípios também nem
sempre foram as melhores. Apostou-se demasiado no “betão” que melhora o
sentimento de “qualidade de vida” das pessoas mas que só por si não é
suficiente para as segurar no território. O factor crítico para fixar pessoas é
o emprego e hoje as autarquias não podem continuar a pensar na criação de
emprego através delas próprias. Os autarcas tem que ser cada vez mais agentes
de desenvolvimento local, promotores das dinâmicas económicas e empresariais e
das potencialidades dos seus concelhos e cada vez menos construtores de
rotundas. Dá mais trabalho e menos garantias de “retorno eleitoral” imediato,
mas será fundamental para o futuro. Por outro lado, é preciso não esquecer que
se não fosse a grande vontade dos municípios de segurar e atrair população o
cenário ainda seria bem pior. Enquanto o país não assumir como estratégico o
desenvolvimento equilibrado de todo o território com politicas sérias,
concretas e contínuas, será muito difícil que os municípios, só por si, o
consigam.
4. Concelho raiano, com fortes
ligações à Estremadura espanhola, pode encontrar aqui o(s) parceiro(s) para o
desenvolvimento da região. O recente “piscar de olhos” a Olivença, com a
assinatura do Convénio de colaboração entre os dois concelhos, é um sinal que é
este o caminho a seguir?
Sem dúvida. Com Olivença temos uma
história e uma cultura em comum que é importante valorizar, e do lado de
Olivença existe um grande interesse em valorizar esse legado e em tudo o que é
português. Mas também temos uma proximidade territorial muito grande. Os dois
concelhos estão separados apenas pelo Guadiana/Alqueva e Juromenha e Villareal
estão frente a frente e representam a porta de entrada no Alqueva para os dois
países. O todo é sempre maior que a soma das partes, e Alandroal e Olivença, em
conjunto, representam um potencial económico, turístico e cultural que deve ser
profundamente explorado. Queremos apresentar aos dois países um produto
turístico único, baseado na história, na cultura e no imaginário raiano que
permita conjugar experiências únicas com o rio pelo meio. Esta ideia tem um
grande potencial de dinamização económica dos dois territórios e é uma das
nossas grandes apostas.
5. E do “lado de cá”, com os
concelhos lusos vizinhos, a cooperação tem sido a desejada?
Do lado de cá colaboramos, conversamos,
mas depois cada um refugia-se ou vê-se forçado a refugiar-se na resolução dos
problemas do seu território e no muito que há por fazer e as ideias de
colaboração avançam lentamente ou vão ficando para trás. Há tempos chegou a
estar em cima da mesa a ideia de uma “Associação de Municípios da Zona dos
Mármores” que depois de muita discussão não saiu do papel. É uma pena, porque
todos tínhamos muito a ganhar com a escala que isso representava. Temos
projectos comuns, como a “Rota Tons de Mármore” que envolve os 5 municípios e a
Entidade Regional de Turismo que pode ser apontada como exemplo de colaboração
a seguir. Talvez as dificuldades nos obriguem a todos a colaborar mais no
futuro.
6. A água, a muita água da
Barragem do Alqueva que banha grande parte do concelho de Alandroal, origina
uma aposta forte no turismo. A IV Mostra Gastronómica de Peixe do Rio, que está
a decorrer até dia 10, é disso um exemplo. Quais as expectativas, assim como as
novidades para este certame?
As expectativas são de que apesar das
dificuldades que estamos a viver, os restaurantes voltem a estar cheios nesta
altura, ajudando a manter um sector que está a passar por dificuldades. Até
porque o peixe do rio tem a vantagem de ser um produto de grande qualidade e
interesse gastronómico mas também, em regra, bastante acessível no que diz
respeito a custos e os preços praticados nos nossos restaurantes durante a
mostra são a prova disso. Quanto a novidades, a principal é a criação de um
centro de acolhimento na Praça da República onde os visitantes podem encontrar
toda a informação sobre a mostra, as actividades, os restaurantes aderentes, a
que distancia ficam, quais os pratos de que dispõe e um apoio a reservas de
moda tentar distribuir os visitantes por todos os restaurantes de forma
equilibrada e evitar filas de espera em alguns. Neste espaço também convidamos
os visitantes a conhecerem os produtos regionais do concelho.
7. Com a aposta neste evento,
pretende tornar o Alandroal num destino gastronómico?
O Alandroal tem um conjunto de
restaurantes com grande qualidade que o tornam um interessante destino
gastronómico ao longo do ano. Por todo o concelho há também lugares menos
conhecidos mas onde se pratica uma cozinha muito genuína e muito interessante.
Com este evento procuramos associar essa procura à grande tradição do concelho
em relação ao peixe do rio e mostrar tudo o que temos de melhor para diferentes
gostos e carteiras mas sempre com garantia do que é genuíno e autêntico.
8. A aposta é bastante diversificada,
alem da gastronomia, o Alandroal proporciona também amplos locais de lazer. O
Guadiana mudou de “cara”, agora está bem mais cheio, ultrapassou inclusive as
margens e passou a ser um local bastante procurado pelos populares para gozarem
algum do seu tempo livre. É objectivo do actual executivo proporcionar mais e
melhores condições, tais como melhores acessibilidades, pista de pesca
desportiva, pista de canoagem, etc…, a quem vos visita?
Sim, o potencial para desportos e lazer
ligados à água é muito grande e está a começar a ser explorado. E esse
potencial existe não apenas no Alqueva mas também na barragem do Lucefecit. Em
Juromenha já está instalada uma empresa de animação turística dedicada a estas
actividades e há espaço para se fazer muito mais. Temos em preparação a criação
de uma pista de pesca em Juromenha e planos para duas áreas recreativas e de
lazer, Águas Frias (Rosário) e Azenhas D´El Rei (Montejuntos) que aguardam
investidores privados.
9. O fomento da actividade
desportiva, em especial com o incremento dessa actividade nas diferentes
colectividades das freguesias rurais, é notório. Curiosamente, o grande
investimento em equipamentos desportivos, com a conclusão do Complexo
Desportivo de Alandroal, acabou por acontecer na sede de concelho, onde a
actividade desportiva oficial é praticamente nula. Como justifica esta medida,
e de que forma pensa dinamizar este espaço?
O município apoia o desporto onde há
vontade local para que ele se pratique e, por isso, temos apoiado os projectos
das colectividades em todo o concelho. Infelizmente, a política de
investimentos em equipamentos desportivos não acompanhou as vontades locais e
concentrou-se no Alandroal. O que se gastou no Complexo Desportivo do Alandroal
chegava e sobrava para criar melhores condições para a prática desportiva em
Santiago Maior, Terena, Rosário e Alandroal. Temos que olhar em frente e
procurar corrigir essas assimetrias, embora o momento seja difícil. Quanto ao
Alandroal, o nosso objectivo é colocar a infraestrutura ao serviço da prática
desportiva do maior número de munícipes possível. Neste momento realizam-se ali
treinos e jogos, do INATEL (Alandroal United), dos escalões de formação (Terena
e Rosário) e dos veterenos. Temos prevista ainda a criação de uma escola de rugby
em colaboração com o Clube de Rugby de Juromenha.
10. 2013 é ano de eleições
Autárquicas. Mais lá para o final do ano, os actuais executivos vão ser
“avaliados”, e o Município de Alandroal não será excepção. Qual o balanço que
faz do presente mandato à frente do município alandroalense?
O mandato ainda não chegou ao fim, e no
tempo que ainda falta pretendemos lançar mais alguns projectos e iniciativas
que, a somar ao trabalho já desenvolvido, nos vão permitir considerar que os
grandes objectivos para o mandato foram alcançados. O mais importante deste
mandato era consolidar as contas, reestruturar a câmara, recuperar a
credibilidade interna e externa da autarquia e lançar as bases de um
desenvolvimento sustentado. Penso que esse trabalho estará, em larga medida,
conseguido em Outubro. Foi isto que prometemos às pessoas.
11. Na região, o Alandroal é o
concelho onde o quadro de candidatos às próximas autárquicas está mais
avançado. Já são conhecidos três candidatos, mas continua no segredo dos deuses
a recandidatura do actual presidente. O Movimento Unidade e Desenvolvimento de
Alandroal, vai a votos? João Grilo é o candidato?
O Movimento Unidade e Desenvolvimento de
Alandroal vai seguramente a votos. Desenvolveu um trabalho que lhe permite
apresentar-se aos eleitores com um sentimento de dever cumprido e com
legitimidade para pedir, com humildade, a renovação da confiança dos eleitores
no projecto. Quanto à minha recandidatura nem está no segredo dos deuses nem é
tabu. Deve sair de dentro do movimento e não de declarações unilaterais, só
isso.
12. Por estes dias, o Alandroal
tem sido também comentado por algo que manchou o quotidiano alandroalense. O
Tribunal de Redondo recebe o julgamento do ex-presidente do Município de
Alandroal, e actual candidato, João Nabais. Como presidente do Município de
Alandroal, município lesado neste processo em mais de 750 mil euros, que
comentário lhe merece este processo, sendo que os factos que são levados a
julgamento remontam à altura em que fazia parte de executivo na qualidade de
vice-presidente?
Como representante do município que
surge na qualidade de lesado neste processo, não devo pronunciar-me sobre
qualquer aspecto do mesmo.
13. O Alandroal em particular,
e o Alentejo em geral, têm futuro?
O Alandroal e o Alentejo têm futuro
porque não acredito em inevitabilidades. Quando oiço dizer que as projecções
técnicas apontam para que se continue a perder população, a aumentar a
desertificação e a diminuir o investimento num território com tantas potencialidades
tenho dificuldades em perceber que alguns políticos aceitem esses “cenários” e
trabalhem para “esses” realidades. Penso que os políticos existem para
contrariar esses cenários, vencer inevitabilidades e ajudar a construir as
realidades que queremos para o futuro. Só assim se justifica que existam. E
penso que todos os que temos responsabilidades politicas temos a obrigação de
construir esse futuro e não defraudar a nossa região.
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