sexta-feira, 8 de março de 2013

ENTREVISTA DE JOÃO GRILO AO "TERRAS BRANCAS"




João Maria Aranha Grilo, professor. Em 2005 deixou o ensino para assumir a vice-presidência da Câmara Municipal de Alandroal, na altura, pelo PS. Divergências com o então presidente, levaram João Grilo a não terminar o mandato para o qual tinha sido eleito. Juntamente com outros alandroalenses, formou o Movimento Unidade e Desenvolvimento de Alandroal (MUDA), movimento pelo qual concorreu às autárquicas 2009, acabando por vencer por 7 votos! Em final de mandato, e enquanto decorre a IV Mostra Gastronómica do Peixe do Rio, falei com o actual presidente da Câmara Municipal de Alandroal, em mais um “Encontros no Alto da Praça”.


1.      João Grilo, a terra e a água estão intimamente ligados ao concelho do Alandroal. Grande extensão de terra, um dos maiores concelhos do Pais e, agora, muita água, mercê da construção da Barragem do Alqueva. Comecemos por falar da terra, do espaço que gere, dos parcos recursos financeiros, das diferentes freguesias do concelho, e da aposta no desenvolvimento do interior alentejano. Presidente, a tarefa não tem sido fácil?

Não, não tem sido fácil. Sobretudo pelo ponto de partida de onde fomos obrigados a começar. Mas por isso mesmo temos mostrado que somos capazes de gerir o município no contexto mais difícil das últimas décadas. Estamos a pagar dívidas, a equilibrar as contas, a fazer obras, a reorganizar a câmara, a melhorar respostas sociais e educativas. Estamos a provar que é possível fazer muito com muito pouco e que uma estratégia concertada de desenvolvimento sustentável pode fazer crescer o concelho ao longo do tempo.


2.      Sendo este um dos maiores concelhos do Pais, o Alandroal está também adjectivado de ser um dos mais pobres. Que medidas tomou, está a tomar ou pensa vir a tomar para mudar esta opinião?

Costumo dizer que não somos tão pobres como nos pintaram no passado nem tão ricos como nos quiseram fazer crer há pouco tempo. Somos um concelho com um grande potencial agrícola e agro-pecuário que se pode traduzir também numa grande riqueza agro-industrial, assim haja investimentos. Temos potencial mineiro como já aconteceu no passado e pode voltar em breve a acontecer com as prospecções que estão em curso. Temos potencial para as energias alternativas, designadamente a termo-solar, com alguns interesses manifestados. E temos todo o potencial turístico que proporciona uma natureza quase intacta. A câmara apostou na criação de condições favoráveis à fixação de empresas, ajudou a criar uma associação empresarial e está a promover o contacto entre empresários, como é exemplo a parceria recente com Olivença. O momento não é o melhor e os empresários estão com uma atitude defensiva resultado do sentimento que se vive no país e na Europa. Por exemplo, só ao nível do turismo temos projectos aprovados na câmara – e alguns com financiamentos comunitários garantidos – que triplicam o número de camas do concelho. É preciso ultrapassar esta instabilidade e voltar a acreditar no futuro da região.

3.      Nos Censos de 2011, o concelho de Alandroal apresenta uma perda de mais de 11% da população residente, em comparação com os Censos de 2001. Que comentário lhe merece estes números? Como se pode inverter esta tendência?

Este é um cenário comum a todo o interior do país. E quando falo de interior estou já a incluir quase dois terços do território. É a prova de que não existem politicas de nível nacional destinadas a combater esta tendência e as politicas dos municípios também nem sempre foram as melhores. Apostou-se demasiado no “betão” que melhora o sentimento de “qualidade de vida” das pessoas mas que só por si não é suficiente para as segurar no território. O factor crítico para fixar pessoas é o emprego e hoje as autarquias não podem continuar a pensar na criação de emprego através delas próprias. Os autarcas tem que ser cada vez mais agentes de desenvolvimento local, promotores das dinâmicas económicas e empresariais e das potencialidades dos seus concelhos e cada vez menos construtores de rotundas. Dá mais trabalho e menos garantias de “retorno eleitoral” imediato, mas será fundamental para o futuro. Por outro lado, é preciso não esquecer que se não fosse a grande vontade dos municípios de segurar e atrair população o cenário ainda seria bem pior. Enquanto o país não assumir como estratégico o desenvolvimento equilibrado de todo o território com politicas sérias, concretas e contínuas, será muito difícil que os municípios, só por si, o consigam.


4.      Concelho raiano, com fortes ligações à Estremadura espanhola, pode encontrar aqui o(s) parceiro(s) para o desenvolvimento da região. O recente “piscar de olhos” a Olivença, com a assinatura do Convénio de colaboração entre os dois concelhos, é um sinal que é este o caminho a seguir?

Sem dúvida. Com Olivença temos uma história e uma cultura em comum que é importante valorizar, e do lado de Olivença existe um grande interesse em valorizar esse legado e em tudo o que é português. Mas também temos uma proximidade territorial muito grande. Os dois concelhos estão separados apenas pelo Guadiana/Alqueva e Juromenha e Villareal estão frente a frente e representam a porta de entrada no Alqueva para os dois países. O todo é sempre maior que a soma das partes, e Alandroal e Olivença, em conjunto, representam um potencial económico, turístico e cultural que deve ser profundamente explorado. Queremos apresentar aos dois países um produto turístico único, baseado na história, na cultura e no imaginário raiano que permita conjugar experiências únicas com o rio pelo meio. Esta ideia tem um grande potencial de dinamização económica dos dois territórios e é uma das nossas grandes apostas.

5.      E do “lado de cá”, com os concelhos lusos vizinhos, a cooperação tem sido a desejada?

Do lado de cá colaboramos, conversamos, mas depois cada um refugia-se ou vê-se forçado a refugiar-se na resolução dos problemas do seu território e no muito que há por fazer e as ideias de colaboração avançam lentamente ou vão ficando para trás. Há tempos chegou a estar em cima da mesa a ideia de uma “Associação de Municípios da Zona dos Mármores” que depois de muita discussão não saiu do papel. É uma pena, porque todos tínhamos muito a ganhar com a escala que isso representava. Temos projectos comuns, como a “Rota Tons de Mármore” que envolve os 5 municípios e a Entidade Regional de Turismo que pode ser apontada como exemplo de colaboração a seguir. Talvez as dificuldades nos obriguem a todos a colaborar mais no futuro.

6.      A água, a muita água da Barragem do Alqueva que banha grande parte do concelho de Alandroal, origina uma aposta forte no turismo. A IV Mostra Gastronómica de Peixe do Rio, que está a decorrer até dia 10, é disso um exemplo. Quais as expectativas, assim como as novidades para este certame?

As expectativas são de que apesar das dificuldades que estamos a viver, os restaurantes voltem a estar cheios nesta altura, ajudando a manter um sector que está a passar por dificuldades. Até porque o peixe do rio tem a vantagem de ser um produto de grande qualidade e interesse gastronómico mas também, em regra, bastante acessível no que diz respeito a custos e os preços praticados nos nossos restaurantes durante a mostra são a prova disso. Quanto a novidades, a principal é a criação de um centro de acolhimento na Praça da República onde os visitantes podem encontrar toda a informação sobre a mostra, as actividades, os restaurantes aderentes, a que distancia ficam, quais os pratos de que dispõe e um apoio a reservas de moda tentar distribuir os visitantes por todos os restaurantes de forma equilibrada e evitar filas de espera em alguns. Neste espaço também convidamos os visitantes a conhecerem os produtos regionais do concelho.

7.      Com a aposta neste evento, pretende tornar o Alandroal num destino gastronómico?

O Alandroal tem um conjunto de restaurantes com grande qualidade que o tornam um interessante destino gastronómico ao longo do ano. Por todo o concelho há também lugares menos conhecidos mas onde se pratica uma cozinha muito genuína e muito interessante. Com este evento procuramos associar essa procura à grande tradição do concelho em relação ao peixe do rio e mostrar tudo o que temos de melhor para diferentes gostos e carteiras mas sempre com garantia do que é genuíno e autêntico. 


8.      A aposta é bastante diversificada, alem da gastronomia, o Alandroal proporciona também amplos locais de lazer. O Guadiana mudou de “cara”, agora está bem mais cheio, ultrapassou inclusive as margens e passou a ser um local bastante procurado pelos populares para gozarem algum do seu tempo livre. É objectivo do actual executivo proporcionar mais e melhores condições, tais como melhores acessibilidades, pista de pesca desportiva, pista de canoagem, etc…, a quem vos visita?

Sim, o potencial para desportos e lazer ligados à água é muito grande e está a começar a ser explorado. E esse potencial existe não apenas no Alqueva mas também na barragem do Lucefecit. Em Juromenha já está instalada uma empresa de animação turística dedicada a estas actividades e há espaço para se fazer muito mais. Temos em preparação a criação de uma pista de pesca em Juromenha e planos para duas áreas recreativas e de lazer, Águas Frias (Rosário) e Azenhas D´El Rei (Montejuntos) que aguardam investidores privados.


9.      O fomento da actividade desportiva, em especial com o incremento dessa actividade nas diferentes colectividades das freguesias rurais, é notório. Curiosamente, o grande investimento em equipamentos desportivos, com a conclusão do Complexo Desportivo de Alandroal, acabou por acontecer na sede de concelho, onde a actividade desportiva oficial é praticamente nula. Como justifica esta medida, e de que forma pensa dinamizar este espaço?

O município apoia o desporto onde há vontade local para que ele se pratique e, por isso, temos apoiado os projectos das colectividades em todo o concelho. Infelizmente, a política de investimentos em equipamentos desportivos não acompanhou as vontades locais e concentrou-se no Alandroal. O que se gastou no Complexo Desportivo do Alandroal chegava e sobrava para criar melhores condições para a prática desportiva em Santiago Maior, Terena, Rosário e Alandroal. Temos que olhar em frente e procurar corrigir essas assimetrias, embora o momento seja difícil. Quanto ao Alandroal, o nosso objectivo é colocar a infraestrutura ao serviço da prática desportiva do maior número de munícipes possível. Neste momento realizam-se ali treinos e jogos, do INATEL (Alandroal United), dos escalões de formação (Terena e Rosário) e dos veterenos. Temos prevista ainda a criação de uma escola de rugby em colaboração com o Clube de Rugby de Juromenha.


10.   2013 é ano de eleições Autárquicas. Mais lá para o final do ano, os actuais executivos vão ser “avaliados”, e o Município de Alandroal não será excepção. Qual o balanço que faz do presente mandato à frente do município alandroalense?

O mandato ainda não chegou ao fim, e no tempo que ainda falta pretendemos lançar mais alguns projectos e iniciativas que, a somar ao trabalho já desenvolvido, nos vão permitir considerar que os grandes objectivos para o mandato foram alcançados. O mais importante deste mandato era consolidar as contas, reestruturar a câmara, recuperar a credibilidade interna e externa da autarquia e lançar as bases de um desenvolvimento sustentado. Penso que esse trabalho estará, em larga medida, conseguido em Outubro. Foi isto que prometemos às pessoas.

11.   Na região, o Alandroal é o concelho onde o quadro de candidatos às próximas autárquicas está mais avançado. Já são conhecidos três candidatos, mas continua no segredo dos deuses a recandidatura do actual presidente. O Movimento Unidade e Desenvolvimento de Alandroal, vai a votos? João Grilo é o candidato?

O Movimento Unidade e Desenvolvimento de Alandroal vai seguramente a votos. Desenvolveu um trabalho que lhe permite apresentar-se aos eleitores com um sentimento de dever cumprido e com legitimidade para pedir, com humildade, a renovação da confiança dos eleitores no projecto. Quanto à minha recandidatura nem está no segredo dos deuses nem é tabu. Deve sair de dentro do movimento e não de declarações unilaterais, só isso.

12.   Por estes dias, o Alandroal tem sido também comentado por algo que manchou o quotidiano alandroalense. O Tribunal de Redondo recebe o julgamento do ex-presidente do Município de Alandroal, e actual candidato, João Nabais. Como presidente do Município de Alandroal, município lesado neste processo em mais de 750 mil euros, que comentário lhe merece este processo, sendo que os factos que são levados a julgamento remontam à altura em que fazia parte de executivo na qualidade de vice-presidente?

Como representante do município que surge na qualidade de lesado neste processo, não devo pronunciar-me sobre qualquer aspecto do mesmo.

13.   O Alandroal em particular, e o Alentejo em geral, têm futuro?

O Alandroal e o Alentejo têm futuro porque não acredito em inevitabilidades. Quando oiço dizer que as projecções técnicas apontam para que se continue a perder população, a aumentar a desertificação e a diminuir o investimento num território com tantas potencialidades tenho dificuldades em perceber que alguns políticos aceitem esses “cenários” e trabalhem para “esses” realidades. Penso que os políticos existem para contrariar esses cenários, vencer inevitabilidades e ajudar a construir as realidades que queremos para o futuro. Só assim se justifica que existam. E penso que todos os que temos responsabilidades politicas temos a obrigação de construir esse futuro e não defraudar a nossa região. 

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