o Tobias não
embarcava em utopias
O
velho Tobias era um cidadão alandroalense.
Tornara-se um homem carismático
pelos seus ditos, sempre oportunos e
originários de uma grande reflexão, que fazia dos momentos mais
atribulados da sua vida.
Nasceu na freguesia de nossa
senhora da Conceição e lá morreu.
Fora tropa em Vila Viçosa, fez
guardas à rainha dona Amélia e conheceu o rei D. Carlos, de quem se dizia
admirador.
Enquanto servidor do
exército considerou o Palácio Ducal a sua segunda casa.
Zé Tobias, moço de trinta anos, casado e pai de um lindo casal de
gémeos, sofreu após a sua saída da tropa, o maior desaire da sua vida.
Acreditava e explicava, que
fora a queda da monarquia, a razão de ter sido posto fora do exército.
Gostava de ter seguido a política
e a disciplina da tropa, não tanto pelo vencimento, que embora certo e bem
regrado pela esposa chegava para manter a casa no Alandroal, junto à horta da
Bica, onde sempre viveu, mas pela vaidade que sentia quando de uniforme vestido.
Sentia-se bem dentro
daquele fato de cotim militar no Verão e de saragoça no Inverno.
E o boné?
Cada dia que o colocava na cabeça
tinha que se ver ao espelho.
Vinha a casa de oito em oito
dias, vinha sempre a pé, exceto quando recebia o pré, nesse dia vinha na
diligência do estafeta Manuel Colunas, que fazia carreira dia sim, dia não,
entre o Alandroal e Vila Viçosa.
Tirava um bilhete de
segunda classe, donde emergia a obrigatoriedade de se descer nas ladeiras. No
percurso entre as duas povoações descia-se em três. Na ladeira do alto de nossa
senhora, algumas vezes tolerada e na de Pardais e do alto Carambou de
obrigação.
Quando se descia na praça e
passava em frente da taberna que fora do avô do Pimenta, o velho taberneiro gritava-lhe:
- Oh meu capitão, não vai um copo?
O Tobias sorria e com um ar
superior e vaidoso lá bebia o seu copito.
Fora da tropa e não se deixando
abater pelo despedimento, logo arranjou trabalho e nos domingos, quando por
vezes tinha folga, ia para o campo arranjar algo para o sustento da família.
Cardos, agriões, “tubarões”
cogumelos e alguma azeitona para pisar e retalhar, tudo isto, levava para casa.
Conhecia bem as azinheiras que davam boletas doces para o magusto, aproveitando
o lume que fazia nas noites invernosas.
Olhar para as mãos dos
outros, nunca olhou.
Tive conhecimento de uma
das suas reflexões, que eu na minha modesta maneira de ser e de pensar e, com a
vivência dos meus anos, classifiquei de política.
A ditadura tinha caído
havia ano e meio.
A instabilidade apoderou-se
no país e o desentendido no exercício do poder era perfeito e conducente um
descalabro financeiro.
O cenário, campestre,
situou-se junto a meio caminho da estrada das Hortinhas/Terena, num dia frio
mas soalheiro dum Inverno que se adivinhava longo, no lugar chamado de
Chaparral.
Naquele dia eu era
tratorista de ocasião.
Tinha ido buscar lenha, grossa e
migada, que o Adélio Salgado, carteiro de profissão, tinha cortado das velhas
azinheiras para estas reverdecerem.
Escutem-nos
esta conversa.
- Lembraste Zé do velho Tobias? - pergunta
o carteiro ao primo Zé Salgado, ferrador de ofício e alandroalense como o
Adélio, ambos a trabalhar e a morar na freguesia de São Pedro de Terena.
- Se me lembro - respondeu o ferrador,
abrindo um sorriso denunciador das recordações do velho Tobias.
O carteiro pressionando um
pequeno pau entre o polegar e o indicador diz para o primo.
-
Lembras-te do velho Tobias dizer isto
- e apontando para o pequeno palito, continuou - Agora estão os republicanos em cima - e invertendo os dedos diz - Amanhã estão os monárquicos. O Povo está
sempre no meio, sempre entalado. - Concluiu com uma firmeza inabalável o
primo Adélio.
Estou a falar de três
gerações que, por curiosidade, poderíamos associar a três sistemas políticos - monarquia, república e democracia.
Ao ler a imprensa bloguista Alandroalense
nela se levantam uns novos/velhos arautos, tentando tocar um novo hino, com uma
trombeta velha, roufenha, de anúncios políticos, gastos, inatingíveis, tentando
enganar os incautos.
O Alandroal, o Concelho não
necessita de novas demagogias e muito menos de demagogos sobejamente conhecidos
e causadores do aprofundamento concelhio, precisa isso sim, de homens que façam
parte da solução num caminhar honesto e credível.
Os Alandroalenses tal como O
TOBIAS NÃO VÃO EMBARCAR EM UTOPIAS.
Helder
Salgado.
15-12-2012.
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