“Não há inocentes, há apenas diferentes graus de responsabilidade.” – Lisbeth Salander.
Sem ter pedido autorização à escritora, permito-me a, uma vez que considero que este pensamento extraordinário, que deu título a um livro da autora, passou a ser do domínio da humanidade, utilizar esta excepcional frase como título do que me apetece dizer, neste caso transcrever.
Resolvi, acerca de três meses, estar com o MuDA, em boa hora o fiz, digo-o hoje sem qualquer dúvida, que tomei uma das mais acertadas decisões da minha vida.
Foram amigos, uns mais próximos, outros menos, que me fizeram despertar para esta nova realidade, a eles agradeço. Foram aqueles os primeiros a guiarem-me no caminho que me conduziu a um conhecimento bem doloroso do meu Concelho. Penúria democrática, privação de imparcialidade, carência de ideias, indícios claros de imperialismo, megalomania de atitudes e de concretizações, inexistência de um plano global de desenvolvimento para o Concelho, total falta de percepção das principais carências da população do Município de Alandroal e a utilização prática do conceito “mentira” como que de uma verdade se tratasse.
Costumo dizer que nasci com o “rabiosque” virado para o sol. É verdade sim senhor. Felizmente para mim, nunca passei pelas privações, pelas dificuldades de vária ordem, quer antes, quer depois do 25 de Abril de 74, que muitos, de certeza a maior parte, dos Munícipes do nosso Concelho passaram, e infelizmente continuam a passar. Não tenho o mais pequeno problema de consciência, de dizer-vos que sempre assumi uma postura de partilha, desde pequeno, sempre reparti o que tinha com os que não tinham, não havendo, com toda a certeza, nenhuma pessoa que me possa acusar do contrário. Tomando como indicativo a média relativa à qualidade de vida dos meus conterrâneos, deve confessar que não vivo relativamente bem, vivo bem. O meu principal desejo é ver todos os habitantes deste Concelho a viverem tão bem, ou melhor do que eu. Para que tal possa ser real, será necessário que a Edilidade tenha uma gestão coerente com a proporcionalidade qualitativa e quantitativa da mesma. Não poderemos continuar a construir “PALÁCIOS” que outrora não foram construídos, não poderemos avançar com obras do tipo, Panteão de D. Duarte (as famosas Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha), que embora já passados 600 anos ainda não foram terminadas. Não somos um Concelho com poucos recursos, somos sim um Concelho com recursos desaproveitados. Os homens e as mulheres do meu Concelho são o seu principal recurso, são a melhor das coisas que este Município deu e há-de continuar a dar, mas que nos últimos anos tão mal têm sido tratados (as), muitas vezes preteridos (as), em favorecimento de mão-de-obra vinda de fora, sabe-se lá porquê! Melhor dizendo, todos sabemos porquê, “cunhas”, compadrios, favoritismos políticos, etc. …
Ermelinda Duarte escreveu e musicou, o que tanto se cantou neste quintal de Portugal, eu ainda não me esqueci, nem nunca me esquecerei, “Uma criança dizia, dizia, quando for grande não vou combater, como ela, somos livres, somos livres de dizer”. Nestes tempos que correm, se o Tarrafal, ou outra qualquer prisão, se começarem a encher novamente, é com todo o orgulho que me ofereço a ser o primeiro dos “hóspedes”, pisar o chão onde infelizmente viveram alguns dos HOMENS que nos proporcionaram ser hoje um país democrático, que hipotecaram as suas vidas a pensar num futuro melhor para o seu povo, é de certeza motivo de vaidade pessoal.
Devem estar a pensar, o que é que tudo isto tem a ver com o título!
Eu, tal como todos, somos responsáveis, o que me obrigou a defender esta causa, o MuDA, uma vez que considero este projecto, como o único que consegue congregar esforços, ideias, ideais, vontades e interesses, que tão necessários vão ser, para ultrapassarmos as grandes dificuldades que se avizinham.
É hora de dizer-mos basta, todos os Alandroalenses merecem deveres e direitos iguais, necessitamos de apoiarmo-nos, de envolvermo-nos, para promovermos o real desenvolvimento do nosso Concelho, assente em bases sólidas e verdadeiras.
Tem sido extraordinário ver este conjunto de pessoas, tão diferentes, mas tão iguais, partilharem as suas ideias e ideais, com uma enorme elevação. Era utopia, não era! Hoje é uma realidade.
Será bom não esquecer, que algumas pessoas que tiveram nas origens deste Movimento, eu não fui uma delas, tenho hoje muitíssima pena de não o ter sido, o meu grau de culpabilidade só aumenta em relação ao estado de degradação social e financeira do Concelho de Alandroal, continuam hoje a dar a cara e a defender a actual gestão, todas as ideias e criticas proferidas, bastante negativas, sobre o principal líder da mesma, pelos atrás citados, durante semanas e meses foram esquecidas. Resultado de quê?
É fácil responder, a este Movimento não pertencem, nem nunca poderão pertencer, pessoas que põem os interesses pessoais acima dos interesses de uma comunidade. Os lugares de candidatos deste Movimento, bem como os de apoiantes do mesmo, não se vendem, nem se compram, adquirem-se com base na transparência, perseverança, responsabilidade, trabalho e honestidade, conjugados com uma grande dose de amizade, companheirismo e camaradagem.
Estou aqui, e todos temos que aqui estar, pelos Alandroalenses, os homens e mulheres que fazem este Concelho estar vivo, não podemos nunca “colocar o carro á frente dos bois”, a pedra não é mais importante que o homem. Particularmente, sei que tenho mais ensinamentos a receber do que a dar, no entanto, disponho-me a fazer o que estiver ao meu alcance, no sentido de inverter o actual estado do Concelho que me viu nascer, e do qual sempre me orgulhei de pertencer. Em troca, não quero nada de especial, desejo simplesmente que sejam felizes, porque eu só o serei se vocês também o forem.
Um último conselho, se mo permitem, no próximo dia 11 de Outubro, dia das eleições autárquicas, revejam o passado, até porque concordando eu com a autora da primeira frase que escrevi, nenhum de nós é inocente, haverá, com toda a certeza, é alguns com muito mais responsabilidade no actual estado das coisas, votem livremente, deveria ser este o presente, nunca perdendo de vista, que a vossa escolha é importantíssima para o futuro dos vossos familiares mais idosos bem como para o dos vossos filhos e netos.
Sou Joaquim Saraiva Neves, nasci (também cresci) na Freguesia de S. Pedro – Terena, no dia 07/04/1964.